sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A origem da salvação



John Stott (autor desta palavra)

De onde provém tão grande salvação? A resposta de Paulo é: 'Não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos' (2Tm 1.9). Se quiséssemos acompanhar o manancial da salvação até a sua origem, deveríamos então voltar para trás, através do tempo, em direção à eternidade do passado. As palavras do apóstolo são mesmo: 'antes dos tempos eternos' e são traduzidas de diversas formas: 'antes do princípio do mundo' (BV), 'antes do tempo existir' (CIN), ou 'antes de todos os séculos' (PAPF).


Para não pairar qualquer dúvida sobre a verdade de que a predestinação e eleição por Deus pertence à eternidade e não ao tempo, Paulo faz uso de um particípio aorístico para indicar que Deus de fato nos deu algo (dotheisan) desde toda a eternidade, em Cristo. O que Deus nos deu foi 'a sua própria determinação e graça', ou 'a sua determinação, ou propósito, de nos dar graça'. A sua determinação de dar a salvação não era arbitrária, mas sim fundada em sua graça. Fica claro, por conseguinte, que a fonte de nossa salvação não são as nossas próprias obras, visto que Deus nos deu a sua própria determinação da graça em Cristo antes que praticássemos quaisquer boas obras, antes de termos nascido e de termos podido fazer quaisquer obras meritórias; antes mesmo da História, antes do tempo, na eternidade.


Temos que confessar que a doutrina da eleição é matéria difícil para mentes finitas mas é, incontestavelmente, uma doutrina bíblica. Ela enfatiza que a salvação é devida exclusivamente à graça de Deus, e não aos méritos humanos; não às nossas obras realizadas no tempo, mas à determinação que Deus concebeu na eternidade; 'aquela determinação', como se expressa o Rev. Ellicott, 'que não surgiu de algo fora dele, mas que brotou unicamente das maiores profundezas da divina eudokia'. Ou, nas palavras de E. K. Srmpson: 'As escolhas do Senhor têm as suas razões imperscrutáveis, mas não se baseiam na elegibilidade dos escolhidos'. Assim sendo, a divina determinação, ou propósito, da eleição é um mistério para a mente humana, já que não se pode aspirar compreender os pensamentos secretos e as decisões da mente de Deus. Contudo, a doutrina da eleição nunca é introduzida na Escritura para despertar ou para diminuir a nossa curiosidade carnal, mas sempre tendo um propósito bem prático. De um lado ela desperta uma profunda humildade e gratidão, por excluir todo o orgulho próprio. De outro lado, traz paz e segurança, porque nada pode acalmar os nossos temores pela nossa própria estabilidade como o conhecimento de que a nossa segurança depende, em última análise, não de nós mesmos, mas da própria determinação e graça de Deus.

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